14 maio 2007
O "CALAE BOCUS". ( I )
O RITUAL SECRETO QUE CONFERE PODERES MÁGICOS AOS PERITOS DE UATI.
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A vida era difícil, recém formado, dificuldade de arranjar um bom emprego e de ganhar seu sustento dignamente. O Dr. Alceu era mais um entre milhares de profissionais mau pagos que enchem as folhas de pagamentos de governos do terceiro mundo. Ele sonhava com a independência financeira e com a possibilidade de ter tudo o que sempre sonhara. Uma vida farta e cheia de benesses.

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Cansado de esperar pela chance que nunca chegava, resolveu que iria abandonar a carreira. Não entendia como os médicos enviados para os postos conveniados da Previdência Internacional e que prestavam serviços para a Família Real de Uati e de outros países, dispunham de servos, veículos luxuosos com mordomias variadas, casas em lugares incríveis e maravilhosas. Seus filhos estudando com os melhores mestres de todas as artes e ciências. Era estranho aquilo. Pois ele ganhava exatamente a mesma coisa que eles e não entendia o que ocorria. O mais estranho era que, após irem servir nos postos, eles nunca mais eram vistos. Sempre acompanhados por figuras estranhas, homens (ou pelo menos pareciam ser) encapuzados usando mantos e de quem nunca se podia ver o rosto.

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Ele se intrigava com aquilo e, parte por inveja, começou a investigar. Apurou que as criaturas que se passavam por servos, na realidade eram os mestres deles. Os conduziam, do posto ao trabalho para que nunca fossem observados ou seguidos. Os alimentavam e os protegiam evitando que fossem atacados pelos comandos da resistência. Era praticamente impossível chegar perto de um deles. Mesmo nos exames, as criaturas cuidavam para que só se chegassem a eles, após cuidadosas revistas e acompanhamento rigoroso.

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Sem notar, o Dr. Alceu é que estava sendo observado e sondado. Numa noite, um carro parou em frente a sua humilde casa na periferia e dois homens bem vestidos saltaram e bateram em sua porta. Ao abri-la, o Dr. Alceu, se assustou e tentou recuar. Agarrado pelo braço, foi conduzido ao interior do veículo. Lá, um homem jovem e com um ar soturno, disse com uma voz pausada, baixa e assustadora: “Dr. Alceu, temos acompanhado seu ”interesse” por nossas operações na Previdência Internacional. Estaria interessado em fazer parte delas?”

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Nervoso, suava frio, e aquelas palavras penetraram em seus ouvidos de uma forma inesperada e estranha. Seu coração parecia parar de bater. Sentia o sangue reduzir a velocidade nas veias e gelar. Naquele momento, seus sentidos estavam tão afiados que ele tinha a percepção ampliada muitas vezes e podia ver o mundo a sua volta como nunca antes. Gaguejando e falando tão baixo que suas palavras soaram quase inaudíveis, ele sussurrou: “S-sim.”

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Sem dizerem mais uma palavra sequer, os homens reuniram-se a ele e o veículo mergulhou na noite. Após várias horas, chegaram à fronteira com UATI. Estranhamente, sem solicitarem documentos ou sequer olharem o interior do veículo, os guardas ergueram a barreira e permitiram a entrada do carro naquele país estranho.

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Chegaram já na alta madrugada a uma construção antiga que aparentava ser um templo. Era muito velha mesmo. Os entalhes nas portas e nas pedras davam ao lugar uma aura inequívoca e assustadora de terror extremo. Podia perceber que era uma língua antiga e, a muito, esquecida. Era estranho. O que eles queriam dele? O que aquele lugar que, agora tinha certeza, era um templo tinha a ver com um médico? Seria um teste? A verdade é que já se arrependera. Queria correr e fugir. Mas sabia que se desistisse, estaria morto.

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Os homens o conduziam pelos corredores escuros e fumarentos, como se já conhecessem o local intimamente. A luz da aurora, que já se pronunciava, era incapaz de penetrar as janelas escuras e aquela atmosfera doentia. Sentia dificuldade em respirar. No ar, havia um cheiro nojento e adocicado que revirava seu estomago.

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Chegaram a um átrio enorme que antecedia um salão maior ainda. No centro do salão, via-se o que parecia ser uma fogueira gigantesca. As chamas subiam pelo ar quase até tocar a cúpula dourada que encimava o templo. Ao seu redor, criaturas com mantos escuros entoavam cânticos que ele não conseguia compreender. Ao centro, um pequeno altar de ouro, circundado por pinturas gigantescas dos Deuses Banq-Eir Oz, retratando todo o panteão sagrado.

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Sobre o altar, um homem vestindo uma túnica dourada era martirizado. Estavam arrancando-lhe os olhos. A cena macabra o chocou profundamente. Virou-se e tentou correr. Foi agarrado, amarrado e silenciado. O estranho homem, que até aquele momento só havia falado com ele no carro, virou-se e calmamente sussurrou em seus ouvidos num tom condescendente: “Doutor, infelizmente não aceitamos desistências”.

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Nada havia preparado o pacato Doutor Alceu para o que aconteceria depois.

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(Continua...)

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posted by Lord Sarubiano at 12:28 AM ¤ Permalink ¤


5 Comments:


  • At 5/14/2007 01:41:00 AM, Blogger Unknown

    Olá,joia?
    Gostei da crítica á família UATI.
    Muito bom.
    Parabéns.
    Abraços.

     
  • At 5/14/2007 11:16:00 AM, Anonymous Anônimo

    Interessantíssimo esse casamento conto/realidade!
    Criativo, eloqüente, elucidante...nos faz pensar.
    Adorei!

     
  • At 5/14/2007 12:32:00 PM, Blogger Cris

    ola!
    nossa, assim n vale...
    quero saber mais!

    http://reticenciasprincipais.blogspot.com/

     
  • At 5/14/2007 04:29:00 PM, Anonymous Anônimo

    Olá lord amigo amado!
    Bom sabes bem que os médicos da triagem uati são assim...digamos enfeitçados,após passarem pelo ritual esquecem os juramentos que fizeram!
    Bom estou tentando colocar a leitura em dia assim que conseguir farei um resumo do que penso ok? ahhh amigo um dia você esbarra com uma que não esteja "enfeitiçado" quem sabe algum se arrepende e põe a boca no trombone né? beijocas pra ti e tenha uma semana abençoada.

     
  • At 5/15/2007 04:29:00 PM, Blogger Elza

    Quanta inspiração!!
    adorei, familia Uai!

    =]